Entre Pixels e Polaroids

O que a nova campanha da Polaroid nos ensina sobre valor, presença e o charme do analógico em tempos de IA.

Tem algo curioso acontecendo. Quanto mais tempo passamos online, mais começamos a valorizar o que está fora da tela. A Polaroid percebeu isso, e fez da imperfeição analógica o centro de uma das campanhas mais ousadas do ano.

Você se lembra da última vez que segurou uma foto impressa? A Polaroid aposta que sim, ou pelo menos que gostaria de lembrar. E constrói toda uma campanha em cima dessa ausência.

Quando o outdoor fala mais que o algoritmo

A nova campanha OOH da marca chama atenção pela simplicidade e coerência visual. Nos pontos mais movimentados de Nova York e Londres, inclusive ao lado de lojas da Apple e escritórios do Google, outdoors e abrigos de ônibus exibem fotos reais feitas com a nova câmera Flip, acompanhadas de textos escritos à mão trazendo a espontaneidade das anotações pessoais.

Em vez de gritar por inovação, a Polaroid propõe algo mais humano. Um dos cartazes diz: “AI can’t generate sand between your toes.” (IA não consegue gerar areia entre os seus dedos dos pés.) Outro provoca: “Real stories. Not stories & reels.” (Histórias reais. Não "histórias" e "reels", como nas redes sociais.) Em tempos de conteúdo planejado, roteirizado e otimizado, eles preferiram a imperfeição.

E funcionou.

A campanha não é só bonita, é estratégica. Ela conecta produto e mensagem de forma rara. A imagem é o produto. A textura é parte da experiência. A mídia é coerente com o discurso. Tudo reforça a mesma ideia: quanto mais digitais ficamos, mais desejamos o analógico.

Muito além da nostalgia

O timing também não é acaso. Cresce o número de jovens que declaram estar cansados de redes sociais, inclusive nas próprias redes sociais. A volta do vinil, do papel e das fotos reveladas é mais que nostalgia, é contracultura. A Polaroid soube captar isso.

E se você acha que esse tipo de campanha só é possível com budget milionário, a marca organizou caminhadas sem celular em Paris, Tóquio e Londres. Os participantes trancam o smartphone por uma hora e exploram a cidade usando a Flip. No fim, mandam uma foto como postal. Custo baixo, impacto alto. Experiência real.

O que a IA não gera

Essa é a grande lição aqui: no meio da febre do digital, existe espaço (e saudade) do que se pode tocar. Um flyer impresso, um brinde feito à mão, uma embalagem com cheiro de papel novo. Pequenos gestos analógicos em estratégias digitais fazem diferença.

Porque, no fim das contas, talvez a pergunta mais relevante do marketing hoje não seja "como usar IA?", mas sim: “qual parte da minha marca ninguém consegue gerar por prompt?”.