No Photoshop, você pode abrir uma foto da sua filha, cortar a cabeça do Neymar, colar em cima, colocar um unicórnio voando e uma logo da Nike flutuando. Se quiser, ainda imprime e coloca na geladeira. Tudo certo. Ninguém vai bater na sua porta.
Mas se pedir para o ChatGPT transformar a mesma foto da sua filha em um desenho fofo, a resposta deve ser: "Isso viola nossas políticas".
A base de muitos softwares criativos é clara: você pode fazer o que quiser, mas precisa se responsabilizar pelo uso. O Photoshop não trava sua criação. Ele confia que você vai saber a hora de parar. Se você resolver vender uma arte com a marca da Coca-Cola ou o rosto do Brad Pitt, aí sim surgem as consequências. Mas até esse momento, o campo está livre.
Com IA, o jogo parece invertido.
A ideia de proteger direitos autorais, a imagem de crianças e celebridades é válida. Mas, na prática, o excesso de barreiras pode acabar bloqueando usos legítimos, e inofensivos. Como o pai que só queria atender ao pedido da filha de se ver como um desenho animado.
Curiosamente, se você usa o Sora (geração de imagem e vídeo da OpenAI) que é da mesma empresa que o ChatGPT, você tem muito menos restrições de direitos. E a maioria nem sabe que tem a opção de usar o outro serviço. Talvez por isso que tenha menos travas. O que é menos popular incomoda menos.
Enquanto isso, quem tem más intenções simplesmente ignora essas limitações. Roda modelos localmente, modifica o código, encontra brechas. E faz o que quiser, inclusive Deepfakes. As ferramentas que travam o uso legítimo acabam servindo só para frear quem quer criar com ética.
Teve um momento nas redes sociais em que todo mundo virou personagem de "anime fofo". As fotos em estilo Ghibli explodiram. Muita gente nem sabia o que era o estúdio, nem conhecia os filmes. Era só uma estética encantadora, acessível com um clique.
Veio a trend, vieram as críticas, especialmente de artistas que viram no movimento uma ameaça ao trabalho feito sob encomenda. Mas, sejamos sinceros: difícil imaginar alguém deixando de contratar uma commission personalizada porque fez uma imagem por IA para entrar na brincadeira da semana.
O próprio Studio Ghibli, aliás, vai muito além do estilo visual. O que encanta nos filmes não é só o traço, mas a alma que mora em cada detalhe da narrativa. Reduzir isso a “ilustração com olhos grandes e cores suaves” é simplificar demais o que torna Ghibli… Ghibli.
Essa febre não tirou o valor da arte feita à mão. Só mostrou que tem um monte de gente querendo brincar de criar, mesmo que seja só por um momento.
A proposta aqui não é um "vale tudo". É responsabilidade.
Você quer usar IA para gerar uma arte da sua filha? Ok. Se quiser vender, aí entram outras regras. Se quiser compartilhar com a família, tudo certo. Se usar o rosto de uma celebridade num contexto público ou comercial, aí sim é caso para responder legalmente.
Criar deveria ser livre. Usar exige responsabilidade.
E a IA, como ferramenta, deveria seguir essa lógica. Não limitar o lápis, mas sim cobrar pelo traço que ultrapassa o limite.
E isso até se aplica também a outros direitos, como de estilo também. Se um artista se acha prejudicado porque alguém usou a IA para criar algo, usando o estilo criado pelo artista, tem o direito de ir atrás de uma compensação.
Aquela arte feita no Photoshop, com Neymar, unicórnio e logo da Nike, segue lá na geladeira. Ela nunca foi um problema, porque você entendeu o limite do uso. A IA também pode ocupar esse espaço, desde que confiem um pouco mais em quem está do lado de cá da tela.
Porque não é o botão que gera a imagem que precisa de regras. É o que a gente faz com ela depois.
Quer saber mais sobre Inteligência Artificial? Entre agora na Comunidade Como não ser substituído por um robô para aprender mais sobre aplicações práticas de inteligência artificial no seu dia-a-dia. Ao invés da IA te substituir, você vai usar a seu favor para manter seu emprego, e até arranjar um melhor.
Não é para transformar ninguém em um grande especialista em inteligência artificial. É para mostrar usos reais da IA.
Essa semana mesmo fiz um tutorial de como transformar um rascunho de diagrama em algo bonito para a sua apresentação usando um comando no ChatGPT. E até como criar uma “máquina” de transformar rascunhos manuais em imagens.
Até vou deixar o link do PDF de brinde hoje. Pode baixar aqui.