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O poder de confiar na sua equipe
Você não está contratando crianças, e por que isso importa

Já parou para pensar em quanto tempo as empresas gastam "cuidando" dos seus funcionários? Não estou falando de oferecer suporte e desenvolvimento, mas daquelas práticas que tratam profissionais experientes como se ainda estivessem na pré escola.
Katarina Berg, que lidera a área de RH do Spotify, jogou luz sobre essa questão com uma frase que ecoa nos corredores (virtuais e físicos) das empresas modernas: "Você não pode gastar tanto tempo contratando adultos e depois tratá-los como crianças". Essa ideia me pegou e me fez refletir sobre como a autonomia e a confiança podem transformar o ambiente de trabalho.

Trabalho é ação, não lugar
Berg nos lembra de um ponto crucial: o trabalho é algo que se faz, não um lugar para onde se vai. Essa mudança de perspectiva é fundamental na era do trabalho remoto e híbrido. O Spotify, por exemplo, percebeu que a produtividade não cai quando as pessoas trabalham de casa. Pelo contrário, a flexibilidade pode até aumentar o engajamento e a satisfação.
Mas por que algumas empresas ainda insistem em microgerenciar seus funcionários? Talvez seja medo de perder o controle, ou uma cultura ultrapassada que associa presença física com produtividade. O problema é que essa abordagem sufoca a criatividade, desmotiva os talentos e cria um ambiente de trabalho tóxico.
Liderando como um técnico: estratégia, confiança e autonomia
Um técnico de futebol contrata jogadores adultos, com habilidades e experiência. Ele define a estratégia, dá o treinamento necessário e confia que eles vão dar o melhor em campo. Ele não fica o tempo todo dizendo onde cada jogador deve pisar ou como deve chutar a bola.

No mundo corporativo, a lógica deveria ser a mesma. Quando contratamos profissionais, estamos investindo em suas capacidades. Precisamos dar a eles o espaço e a autonomia para que possam brilhar. Isso significa definir metas claras, oferecer recursos e suporte, e confiar que eles vão entregar resultados.
O equilíbrio do Spotify: flexibilidade e "core week"
O Spotify incentiva a ida ao escritório, mas de forma inteligente. Além de criar experiências que tornam o ambiente de trabalho atraente, como sessões de música ao vivo, a empresa promove a "core week", uma semana anual em que as equipes se reúnem presencialmente para fortalecer a colaboração, o planejamento estratégico e o senso de comunidade. Essa iniciativa permite que o Spotify mantenha a flexibilidade do trabalho remoto sem perder elementos essenciais da cultura organizacional.

Já trabalhei em uma empresa que tinha algo bem parecido. No início do ano tinha uma semana presencial com todo o time da América Latina. Com apresentações (virtuais) de todas as outras regiões do mundo, onde conseguíamos saber o que ia acontecer globalmente na empresa, conhecer melhor e interagir fisicamente com nossos colegas e incorporar melhor a cultura da empresa.
O voo dos adultos
A citação de Katarina Berg é um chamado para repensarmos a forma como lideramos e gerenciamos nossas equipes. Não se trata apenas de adotar o trabalho remoto por modismo, mas de construir uma cultura de confiança, respeito e autonomia.

Lembra lá da introdução, onde questionei o "cuidado" excessivo com os funcionários? Ao invés de tratar os profissionais como crianças, vamos dar a eles as asas para voar. O resultado pode ser surpreendente: equipes mais engajadas, produtivas e felizes.
Até a criatividade fica prejudicada com o excesso de controle. Muitas ideias com potencial são exterminadas logo no início porque não existiu nem a liberdade necessária para poder desenvolver melhor.
Eu sou um defensor ferrenho do trabalho remoto mas boa parte dessa ideia de tratar adultos como adultos é útil até no presencial. Já tive superior hierárquico que não tinha nenhum conhecimento específico para me ajudar no marketing e nem deveria se meter nisso. Mas funcionava mais como um capataz que ficava microgerenciando até o que não entendia. Queria interferir até em como eu gerenciava o meu time mesmo com tudo funcionando perfeitamente. Mas precisava ter a “assinatura” dele.
Você precisa contratar bons profissionais, ter processos, e deixar que os responsáveis façam o que devem. Com o mínimo de interferência possível.