Algoritmo do Twitter alimenta o hate

O algoritmo do Twitter tem mudado nos últimos tempos. E eles até começaram a divulgar as alterações que vêm sendo feitas. Então fica mais fácil entender o que aumenta o alcance de uma publicação.

Por exemplo, postagens com mídia têm maior alcance. As que abordam tendências atuais também. Mas existem também ações que diminuem o alcance, como colocar um link para um apágina externa. Por isso muita gente publica uma mensagem e coloca o link só na seguinte, linkada a ela.

Mas uma das mudanças que, pra mim, fez uma das maiores diferenças é que o retweet (repostar) tem cada vez menos peso. E as respostas cada vez mais.

Antes a gente compartilhava uma mensagem que queria que nossos seguidores vissem e isso já aumentava o engajamento com facilidade. Principalmente se o RT viesse de uma conta muito seguida.

Verificação

Outra mudança foi a verificação paga. Mas além de você ter que investir dinheiro para ter o selo azul, você ganha a possibilidade de receber uma parte dos anúncios que são colocados junto das suas mensagens. Só que só contam os anúncios que aparecem no meio das respostas dos tweets. Os que estão na Timeline geral não entram na divisão.

Ou seja, para você ganhar dinheiro, além de alcance, precisa de gente comentando e vendo comentários.

Existem alguns requisitos mínimos para isso. Não são muito complexos, o mais difícil é ter mais de 5 milhões de visualizações dos tweets a cada 90 dias. Dá umas 55 mil visualizações por dia.

Como funciona

Eu tenho pouco mais de 10 mil seguidores na rede e, quando começou essa novidade, tinha os 5 milhões de visualizações nos últimos 3 meses. Bem no limite, mas tinha.

Pensei em pagar para ver quanto receberia só pra ver se o selo se pagaria. Só que eu não queria fazer isso sem muita certeza de que isso aconteceria, então decidi tentar manipular meus números focando nas interações dos outros usuários.

Exemplo real

Esse gráfico acima mostra o primeiro trecho (marcado em vermelho) como costumavam ser os dias no meu twitter. Oscilava muito porque eu só escrevia o que queria e como queria.

Na parte marcada em azul foi quando eu comecei a focar em tweets que gerassem respostas. Não eram todos, claro, mas quando podia eu fazia um que sabia que teria algumas respostas. Sem contar que também passei a usar mais imagens e escondi vários links na segunda mensagem do fio.

E com isso consegui uma boa consistência, passando fácil pelas 55 mil visualizações por dia sem depender de picos.

No finalzinho era um fim de semana que eu usei pouco e nem me importei muito com o Twitter. Por isso a queda.

Depois eu fiz um tweet meio despretensioso. Era 11 de setembro e a equipe do Haaland postou ele dando uma voadora na bola e fazendo alusão a aviação. Comentei que era o pior dia do ano pra fazer isso.

Não parecia ser nada demais.

Era 11 de setembro.

Mas choveu gente dizendo que era mimimi e aquele papo todo. Um monte de hater que nunca tinha visto um tweet meu, mas como furou a minha bola e foi parar em cantos mais complicados do Twitter. Recebi 150 comentários, em grande parte críticas. Além de 68 compartilhamentos com comentários, também sem muita simpatia.

Além disso 630 retweets, que vêm de quem concorda com a publicação e só quer passar adiante.

Isso tudo gerou 770 mil visualizações. E fez com que aquele período que eu mostrei ali acima, ficasse assim, com esse tweet participando da escala.

Claro que foram muitos RTs, mas é comum ter muita gente compartilhando e não conseguir um número tão expressivo no alcance. Então, pela minha experiência de Twitter, as respostas fizeram a maior diferença. Mesmo sendo, em grande parte, negativas.

E nem estava tão ruim assim. Eu fiz uma escala de rejeição, anos atrás, que calculando o número de respostas, dividido pelo de compartilhamentos (sem comentários), chega a um número. Se ele for superior a 1, é ruim. Esse aí não chegou em 0,24, então nem chegou perto de ser um tweet tão odiado pela maioria.

Mas eu não queria só me basear em achismo. Decidi tentar replicar a polêmica aproveitando a minha maior base no Twitter, torcida do Flamengo.

O gráfico, ainda usando como referência o dia do tweet sobre o 9/11 ficou assim nos dias seguintes.

Os picos de interação foram todos em dias de tweets que eu sabia que causariam polêmica.

Como (incrivelmente) uma parte da torcida do Flamengo está com implicância com o Gabigol, qualquer Tweet que eu falasse positivamente dele gerava muito alcance.

Esse aí chegou a 87 mil visualizações com 107.

Esse outro, 177 mil visualizações com 177 respostas.

Não foram só esses, nem foi só falando do Gabigol. Mas foi bem constante a grande quantidade de respostas, geralmente hate, com grande alcance.

Atualmente, meu gráfico está assim.

Quase 3 milhões de visualizações nos últimos 28 dias. Uma média de 104 mil impressões por dia, quase o dobro do necessário para poder participar do programa de partilha de receitas. Sem paranóia nem nada, só ajustando um pouco meu conteúdo ao que o algoritmo favorece. Isso tudo com ajuda de uma média de 90 respostas (muitas raivosas) por dia.

Em todos os casos, também tiveram muitos retweets. Não deu para fazer um acompanhamento temporal, mas no "olhômetro" o que fez as visualizações crescerem mais rápido foram as respostas. Os RTs chegaram antes e foram compartilhando a mensagem, mas quando furou a minha bola e começou a chover hater reclamando que realmente fez as visualizações crescerem mais rápido.

O problema

Pegando como base tudo isso que eu levantei, a maneira mais fácil de conseguir um grande alcance, atualmente, no Twitter, é com postagens polêmicas que gerem muitas respostas, geralmente raivosas.

Ainda essa semana um perfil famoso por falar de especulações de transferências no futebol falou do interesse de um time espanhol em um goleiro do Grêmio. Mas esse time é o Atlético de Bilbao que só contrata jogadores do país basco (uma região da Espanha com um pedacinho na França. O que faz ser impossível eles contratarem um atleta nascido em Chapecó. Mas isso foi divulgado, gerou muitos RTs, curtidas, comentários e muita crítica mostrando que era uma especulação impossível. Mas vai gerar um bom dinheiro para o influenciador, que já não é conhecido pelo alto índice de acerto.

Imagina fake news mais perigosas.

Solução?

A solução mesmo seria o algoritmo equilibrar melhor isso. Mas não vai acontecer por questões comerciais (aqueles anúncios que aparecem no meio das respostas).

Então o que a gente pode fazer?

Não responder, nem compartilhar com comentários, mensagens polêmicas. Nem mesmo fake news. Se não conseguir se aguentar, dá um print e cola ele no tweet que você ainda vai ter ganho de alcance por ter postado uma imagem.