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ChatGPT é sinônimo de produtividade?

Uma amostra simples de como usar dados para tentar levantar uma hipótese

Tenho muitos conteúdos planejados para abordar aqui. Mas às vezes eu esbarro numa pauta do nada.

Vi um comparativo entre pesquisas dos termos Twitter e Threads com alguém já enterrando a nova rede social só baseado nisso. Aí eu ia refutar com números sobre o ChatGPT, que teve uma queda de pesquisas, mas é cada vez mais popular.

Mas eu tropecei num gráfico muito mais interessante quando eu peguei a visualização dos últimos 90 dias.

Achei curiosa a repetição de um padrão. E quando isso acontece, tem alguma coisa escondida.

Parei pra prestar atenção e notei que a repetição é a cada 7 dias, então é uma tendência semanal. Fui analisar os pontos mais baixos e são sempre em sábados, seguidos de domingos.

Aí eu pensei, será que dá pra avaliar produtividade dos dias da semana com essas pesquisas sobre o ChatGPT? Porque quem tá pesquisando, em teoria quer usar. E, na maioria das vezes, o uso é para algo produtivo (estudar ou trabalhar). Então faz sentido que caia no fim de semana.

Aí fui pro Excel.

Joguei lá os dados e separei por dia da semana. Não surpreendentemente, Sábado e Domingo bem abaixo dos outros.

Aí eu quis fazer uma análise que já era latente mesmo por esse gráfico. Que os dias que mais somos produtivos são Terça, Quarta e Quinta. Só que se eu pegasse só os totais, ia ser mais difícil notar a diferença de impacto porque tem um uso basal do ChatGPT.

Traduzindo, é como a Globo, que mesmo quando está fora do ar tem uma audiência porque todo mundo deixa a TV no canal (já foi muito mais assim no passado).

Então eu fiz uma média dos fins de semana e reduzi isso do total de cada dia. Assim ia dar para enxergar melhor a diferença entre os dias da semana, sem me preocupar com esse uso padrão geral.

Pelo gráfico criado pelo Instituto DataLuiz, na segunda a gente trabalha 20%, na terça 23%, quarta também 23%, na quinta 22% e fecha a sexta-feira com preguiçosos 12%. Meio que bate com o que temos de senso comum.

Mas é legal cruzar esses achados com outras informações. E quem poderia ter uma boa quantidade de dados sobre produtividade? Um serviço de monitoramento de tarefas.

Achei no Redbooth um artigo falando disso com um gráfico bem interessante.

A gente também vê uma queda na sexta, mas a segunda consta como o dia mais produtivo. Significa que o Instituto DataLuiz está errado?

Não necessariamente. Mas abre mais questionamentos.

Será que na segunda o pessoal coloca em dia as tarefas que fez na semana anterior e não tinha marcado no Redbooth? Ou eu só peguei uma série pequena de dados?

O mais legal de análisar dados é conseguir levantar hipóteses. Depois disso conseguir maneiras de testar essas hipóteses até conseguir chegar em conclusões mais assertivas.

E se você olha mais um pouco os dados, consegue ver que existem mais informações no meio daqueles números.

Enquanto eu organizava tudo no Excel, achei curioso que dava para notar uma diminuição nas pesquisas por ChatGPT depois de algumas semanas. Isso poderia, ou não, fortalecer a teoria de que analisar as pesquisas poderia trazer informações sobre produtividade.

Peguei as 12 semanas que estavam inteiras nesses 90 dias e criei o seguinte gráfico:

O índice de produtividade desenvolvido pelo DataLuiz se mantém até bastante constante até a sexta semana. Tem uma queda nas três seguintes e depois desce ainda mais.

Mas o que isso significa?

Pelo que pesquisei, a sexta semana é a última de aulas nos EUA (país que mais usa o ChatGPT). E deve ser bem parecido com os países do hemisfério norte, em geral. Além de coincidir com as férias escolares da Índia (segundo país que mais usa o ChatGPT), que também são no meio do ano.

As últimas duas semanas, que estão bem abaixo das outras, são quando começa julho, o mês de alto verão no hemisfério norte e quando boa parte dos trabalhadores gostam de tirar férias.

Mudando a análise de dia da semana para a semana inteira, foi possível criar uma análise diferente que acabou fortalecendo a hipótese de ser possível mesmo comparar produtividade com pesquisas pelo ChatGPT.

Mas não é possível cravar que é isso mesmo e ponto final. Se subirem as pesquisas de agosto para frente, e mantiverem a tendência semelhante nos períodos de sete dias fortalece muito a teoria.

Se continuar só caindo é porque a tendência de pesquisas pelo termo está descendo mesmo. Isso significa que existe um interesse menor pelo ChatGPT? Também não é garantido. Pode ser só porque todo mundo já se acostumou tanto a usar a ferramenta que já entra direto. Ou pode ser porque com os novos concorrentes a ferramenta da OpenAI perdeu market share.

Claro que, hoje, se eu precisasse tomar uma decisão eu estaria bem confortável em ter dois indícios diferentes (tendência dos dias da semana e diminuição da produtividade nas férias) da correlação entre pesquisas e produtividade.

Eu gosto muito de tomar decisões baseado em análises. Algumas mais simples e outras mais elaboradas. O importante é saber onde olhar e como investigar. Se você sabe o básico de Excel e consegue ler gráficos já está na frente de MUITA gente no mercado de trabalho. E ainda tem até argumentos para defender suas decisões mesmo que o resultado não seja o esperado. E até criar uma nova hipótese a partir disso.

Marketing digital é observar tendências. Conseguir fazer análises olhando os resultados e conseguir usar isso para refinar estratégias e tirar o melhor de cada situação.

Você não precisa ser estatístico nem matemático, mas tem que conseguir entender o que os números contam.

Já trabalhei em lugar onde só subimos o investimento em mídia quando conseguimos otimizar o CPL e diminuir ele em quase 70%. Aí chegamos num valor constante onde não tinha mais como otimizar, no momento, e decidimos colocar mais dinheiro. Depois de vários testes e hipóteses, fomos refinando as estratégias até conseguir definir o que funcionava melhor para cada produto e tomar a decisão de gastar mais porque era a única maneira de aumentar as vendas. Em alguns casos com landing page, outros com ligações, alcance misturado com conversão, um mix de estratégias específicas para cada caso que foi testado e medido.

E só dá pra fazer isso com tempo para testar e análises constantes de resultados.

Quem trabalha com marketing digital e não consegue entender um mínimo de dados, está chutando.

Se você tá conseguindo muito tráfego, mas pouca conversão, tem uma grande chance da sua landing page estar ruim. Ou pode ser melhor fazer uma campanha de ligação, ou mensagem. Pode ser que seu público esteja no Facebook, apesar de todo mundo dizer que ele morreu.

Como você descobre isso? Lendo os dados.

Eu estou longe de ser um especialista em Excel. Faço um uso básico e recorro a tutoriais (e ChatGPT, né?) quando preciso de algo mais específico. Mas o Excel é só uma ferramenta, assim como várias outras. O mais importante é saber enxergar além dos números.

Links

  • Usei o Google Trends para pegar os dados das pesquisas.

  • Uma outra análise curiosa que eu já fiz, foi a proporção entre respostas a tweets e número de retweets. Para ilustrar isso usei uma notícia de uma policial que chamou atenção pela beleza e criei a Escala Ceretto de Rejeição. A explicação tá lá no texto.

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