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Os artistas estão surtando. E já vimos isso antes.
Do pincel ao prompt: por que a revolta dos artistas com a IA parece a dos monges copistas diante da imprensa.
Você certamente viu aquela moda de transformar sua selfie em um pôster do Estúdio Ghibli com a ajuda da IA. Muita gente achou divertido. Outros, especialmente artistas profissionais, acharam um ultraje. Roubo. Plágio. Profanação da arte. Falta de alma.
Se você acha que esse drama é novo, tenho uma história do século XV pra te contar...

Monges, manuscritos e medo
Muito antes de existir Photoshop ou DALL·E, o trabalho artístico mais valorizado era copiar livros à mão. Sim, letra por letra. Página por página. Eram os monges copistas. Além de passarem anos nessa função, muitos deixavam marcas pessoais nas margens dos livros, desenhavam, às vezes até com toques bem-humorados, irônicos ou até... eróticos. Essas ilustrações marginais têm até nome: drolleries.

Esses monges não estavam apenas copiando. Eles criavam. E eram, de certa forma, os “designers gráficos” da Idade Média.
Então veio Gutenberg. E com ele, a prensa. Livros começaram a ser impressos em escala. Em vez de levar anos pra produzir uma cópia da Bíblia, levava semanas. E os monges? Perderam relevância. O mundo mudou.
Mas os livros não perderam o valor. Os monges não ficaram “desempregados”, eles se adaptaram. Outros seguiram outros caminhos. Mas o que ninguém conseguiu foi parar a imprensa.
Claro que os livros eram obras de arte e acabaram virando objetos comuns. Mas isso também aumentou muito o alcance dos conteúdos deles.
A nova prensa
Hoje, a Inteligência Artificial é a nova Gutenberg. Em vez de reproduzir textos, ela gera imagens, textos, vozes. E de novo, quem antes tinha o monopólio da produção está em pânico.

É compreensível. Muitos artistas viveram anos desenvolvendo estilo, técnica, construindo audiência. E agora qualquer um com um prompt bacana consegue uma imagem lindíssima em segundos. E até vejo um pouco de gatekeeping de alguns artistas por causa disso. Já vi argumentos de que foi muito difícil aprenderem e por isso tem um valor maior. Mesmo que quem tenha usado IA tenha feito para mandar a foto para a avó.
E fazem isso usando mesas digitalizadoras e Photoshop. Ferramentas que certamente geraram o mesmo tipo de chiliques quando apareceram. Porque quem era raiz mesmo fazia com lápis e papel…
Mas vamos ser justos, transformar sua selfie em Ghibli não é o fim da arte. É só diversão. Claro que em alguns casos isso vai acabar substituindo o trabalho de alguns artistas. Mas o mundo funciona assim. Cabe aos artistas até conseguirem criar mais valor para as suas artes. Se eles estão perdendo o trabalho de transformar uma foto em um anime, tá fácil serem substituídos.

E, honestamente, a maioria não se importa o quanto de alma uma ilustração tem. Só quer se divertir ou até usar em algum outro conteúdo que teria pegado alguma foto aleatória para ilustrar. Não tirou emprego de ninguém, só melhorou o que estava fazendo tendo acesso a uma ferramenta que o ajuda a fazer o que ele não consegue.
O futuro não espera ninguém. Mas dá carona pra quem aceita seguir
Eventualmente os monges copistas acabaram sumindo. Deve ter demorado décadas, e tiveram tempo para se adaptar e fazer outras funções de monge (sejam lá quais forem). Os artistas não vão desaparecer. Mas resistir ao avanço da IA como se fosse possível colocá-la de volta na garrafa é perda de tempo e de energia criativa. O ideal é conseguir usar a IA para auxiliar em suas criações e até tentarem elevar suas criações com a tecnologia.
Artistas ainda têm, e sempre terão, algo que IA nenhuma possui: experiência humana vivida. Dor, prazer, contexto, contradições. Isso não se sintetiza com algoritmo. Quem entender isso cedo, vai usar a IA como aliada, não como inimiga.

Enquanto isso, vale lembrar: reclamar de quem só está brincando com uma nova tecnologia é como se os monges tivessem tentado processar Gutenberg por imprimir “livros sem alma”.
Eles não ganharam a causa.
Pra fechar o ciclo...
A arte já passou por muitos choques tecnológicos: da prensa à fotografia, do cinema ao digital. E em todas essas transições, alguns resistiram. Outros lideraram.
Hoje, a IA não está matando a arte. Está mudando as regras do jogo. E como sempre, quem souber jogar com criatividade vai continuar encantando o mundo – com ou sem drolleries nas margens.
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Um vídeo bem divertido sobre drolleries.
E a minha preferida é essa aqui, da guerra entre coelhos e cachorros:

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