Beckham plantou para Messi colher

As diferenças dos mercados que contrataram Messi e CR7

Estados Unidos e Arábia Saudita estão no centro das discussões atuais do mercado do futebol.

Há anos os EUA estão tentando fazer a liga deles ser relevante. Grandes empresários, muitos já donos de times de outros esportes, que conhecem muito bem como funciona o mercado deles.

São especialistas em espetáculo e americano ama torcer por qualquer coisa. O mercado é tão grande, com possibilidade de tantos nichos, que existe até campeonato profissional de lacrosse.

Então, claro que o futebol encontraria seu espaço por lá. Internamente, é um sucesso de público, com uma média geral de 20 mil torcedores por partida e até com time (Atlanta) que tem uma média superior a 50 mil fãs por jogo.

Mesmo assim, uma das maiores receitas de clubes de futebol costuma vir das transmissões dos jogos na TV. E, nisso, a MLS ainda está bem atrás das grandes ligas. No contrato atual, a MLS fatura U$ 250mi/ano pelo pay-per-view (para o mundo todo) e U$ 7mi pelos direitos da TV aberta (nos EUA e Canadá). E o contrato do PPV foi fechado por 10 anos! Ou seja, estão apostando mais na divulgação global do que num crescimento razoável dessa receita num futuro próximo. O Brasileirão, por exemplo, fatura por volta de R$ 3bi em direitos de transmissão (mais de U$ 600mi). E mal é visto fora do nosso país.

Mas isso foi antes da contratação do Messi.

Logo quando se divulgou o acerto do jogador com o Inter Miami, os ingressos para o jogo contra o Los Angeles FC foram de menos de U$ 40 para mais de U$ 450, o mais barato.

O mais curioso, para a maioria, é que a MLS funciona como as outras ligas profissionais americanas, muito diferentemente do resto dos campeonatos pelo mundo. É uma grande empresa, que reúne os donos de cada uma das franquias associadas à MLS. Em primeiro lugar negócios, em segundo, futebol.

Tanto que a chegada do Messi acabou tendo um apoio financeiro de toda a liga. O dinheiro saiu até do bolso dos clubes rivais. O argentino vai receber até parte da venda de novos pacotes de pay-per-view, que são divididos por toda a liga.

Isso porque os donos de todos os clubes enxergam a chegada do Messi como um ativo para toda a liga. O que não deixa de ser verdade, mas seria impossível num futebol com grandes rivalidades e sem o mínimo de pensamento em conjunto, como acontece com o brasileiro.

Não me vejo achando bom o Flamengo pagar para um jogador de primeira linha jogar no Vasco. É coisa de quem realmente enxerga o dinheiro muito antes do resultado esportivo.

Esse modelo de contratação do Messi lembra muito o do Beckham.

O jogador inglês tinha 31 anos quando saiu do Real Madrid para ganhar um salário 70% menor numa liga completamente periférica.

O time dele, Los Angeles Galaxy, ofereceu participação nos lucros, confiando no crescimento da renda com a chegada do jogador galático. O que rendeu U$ 18mi/ano para o inglês.

Além disso, o mercado americano é o maior do mundo. E a imagem do Beckham sempre teve muito apelo comercial, o que o ajudou a fechar grandes contratos publicitários e ainda reforçar a imagem dele nos EUA. Aumentando o valor global da marca David Beckham.

Para fechar, a MLS ainda ofereceu para o jogador a opção de comprar um clube, em uma expansão futura da Liga, com um valor muito baixo. Apenas U$ 25mi, em comparação a outros clubes comprados por U$ 150mi na mesma época.

Antes da contratação do Messi, o valor para entrar na Liga estava por volta dos U$ 500mi. Ou seja o Beckham acabou faturando muito mais do que era esperado com aquele contrato do Real Madrid que ele abriu mão.

E o Messi ainda vai ter o direito a ser acionista do Inter Miami. O ciclo que o Beckham abriu trouxe o Messi que vai virar sócio dele. Como negócio já é impressionante, como futebol competitivo ainda está longe do topo.

Copa de 2026

Além de tudo isso que eu já listei, a próxima Copa do Mundo será nos EUA (além de Canadá e México).

Ter o Messi jogando no país já atrai mais atenção para o futebol de lá mesmo antes do torneio. E também é bom para o Messi que vai ter sua imagem crescendo no maior mercado do mundo, que nem liga muito para futebol. Mas que deve mudar esse foco até a Copa.

A MLS é relevante?

Hoje é mais ou menos. Tem MUITO dinheiro lá e o que mais importa para a Liga, no momento, é isso mesmo. Aumentar faturamento e fortalecer o mercado do futebol nos EUA.

Achei um gráfico que mostra que o retorno de faturamento comparado ao valor do time da MLS é bem razoável, se comparado o tamanho da Liga com as principais dos EUA. A diferença não é tão grande em relação à NBA, o futebol ainda tem o bônus de ser o esporte mais mundial que existe e ainda está "barato" entrar na MLS.

Certamente isso tudo tem pesado para vermos todos esses investimentos sendo feitos nos EUA.

E até no futebol internacional a MLS teve seu primeiro feito relevante. O Seattle venceu a Concachampions e foi o primeiro time de lá a jogar um mundial de clubes.

E os planos da Arábia Saudita?

Depois de levar o Cristiano Ronaldo para lá, todo mundo ficou de olho no que os sauditas fariam depois. Não conseguiram o Messi, mas levaram o Benzema. E ainda anunciaram um plano de investir U$ 20bi no futebol.

O português foi contratado para receber U$ 200mi por ano. Não é questão de mercado, nem nada assim. É dinheiro líquido na mão e ponto.

Eles até falam, que o plano é fortalecer os times fortes, privatizar as equipes e tornar a Liga Saudita uma das 10 maiores do mundo.

Mas uma liga com apenas 16 clubes recebendo um investimento de U$ 20bi para valorizar e vender os clubes não parece fazer muito sentido financeiramente.

Só esse valor, dividido por 16 equipes, dá U$ 1,250bi. Com esse dinheiro você compra times na Liga mais valiosa do mundo. No Newcastle recentemente foi comprado pelo Fundo Soberano da Arábia Saudita por U$ 400mi. Ou seja, os sauditas melhor do que ninguém, estão sabendo exatamente quanto vale um clube de futebol.

E o mercado de lá não é como o dos EUA. Então não existem todos esses outros benefícios que levaram Messi e Beckham pros EUA.

Mas tem um outro fator importante. A Arábia Saudita está concorrendo para ser a sede da Copa de 2030. Concorrendo com a candidatura de países da América do Sul, com o excelente nome de CHUPAR (acrônimo de Chile+Uruguai+Paraguai+Argentina). E, para complicar mais as coisas, o argentino Messi já é embaixador da candidatura saudita. País que ele e a família não quiseram ir nem U$ 500mi e que rivaliza com a candidatura da própria Argentina.

Levar grandes jogadores para lá certamente aumenta a chance do país virar sede Copa de 2030.

Fica parecendo que esse investimento todo é, mais uma vez, sportwashing.

Que é o que acontece quando você usa o esporte para melhorar a imagem de uma empresa, país, entidade, qualquer um. Como o país tem vários problemas com a opinião pública internacional, usar o esporte para ter um ganho de simpatia do exterior é algo que pode ajudar.

Assim como a China acabou fazendo por anos e depois foi desistindo.

Tem um outro fator também que eu ainda não sei se é uma questão de ovo ou galinha.

Tirando o Cristiano Ronaldo e o Messi, outros jogadores que vêm recebendo convites para atuar no país são muçulmanos.

Eu só não sei se eles estão escolhendo jogadores que seguem a mesma fé para melhorar a imagem da própria religião (a principal do país) ou se eles têm mais facilidade de aceitar os costumes do Islã por serem muçulmanos. O Benzema falou em entrevista que gostaria de morar num país muçulmano.

Mas claramente existe uma ligação.

Se eu tivesse dinheiro para investir em alguma das duas ligas, sem dúvida nenhuma colocaria dinheiro na MLS. O formato saudita recentemente afundou na China, com grandes empresas por trás, enquanto o americano é focado 100% no negócio com um crescimento mais estruturado.

Mas aquele papo de que a nova geração de jogadores americanos promete, que os EUA vão ganhar Copa em X anos, e toda essa enrolação, não me pegam não. Nem sei se a liga será, um dia, realmente relevante mundialmente. Mas não tenho dúvidas que dará dinheiro. Até por ser o foco principal mesmo.