Imagine um show de rock. A guitarra pode estar impecável, a bateria em perfeita sincronia, mas se o vocalista desafinar, ninguém lembra da banda. É cruel, mas é assim que funciona. O público conecta primeiro com quem segura o microfone.
Nas empresas, a lógica é parecida. O time inteiro pode ser brilhante, mas o que chega para o mercado, seja clientes, investidores ou imprensa, quase sempre vem pela voz de quem está no palco: o CEO e seus executivos de frente.
E é por isso que o PayPal abriu uma vaga que chamou atenção no mercado: Head of CEO Content. Um cargo dedicado apenas a garantir que a narrativa do CEO esteja clara, consistente e estratégica. Em linguagem de backstage, um diretor artístico para o vocalista da banda.
O poder da voz executiva
Executivos vivem atolados em reuniões, decisões e viagens. A última coisa que sobra na agenda é escrever artigos, planejar posts de LinkedIn ou lapidar falas para eventos. Mas o mercado não perdoa silêncio.
O detalhe é que a voz desses líderes vale mais que qualquer comunicado institucional. O Edelman Trust Barometer mostra que 64% das pessoas confiam mais em informações vindas de um executivo do que de comunicações oficiais de empresas.
Além disso, existe uma realidade prática: conteúdo publicado por pessoas tende a ter muito mais alcance e engajamento do que publicações de páginas corporativas. O algoritmo privilegia gente de verdade. E o público também.
O que o PayPal entendeu, e que muitas empresas ainda resistem, é que marketing pessoal de líderes não é vaidade. É estratégia corporativa.

Como transformar executivos em autoridade
Em 2021, vivi essa experiência de perto em uma empresa de TI. Nossa missão era simples e ambiciosa: construir credibilidade no mercado privado o mais rápido possível.
A estratégia foi colocar nossos C-Levels em evidência, não como influenciadores de frases prontas, mas como referências sérias no setor. O processo que criamos se provou muito eficiente:
Curadoria de temas estratégicos feita por especialistas de conteúdo.
Discussão com os executivos para validar prioridades e alinhar ao que fazia sentido para eles.
Produção de textos de alto nível, escritos com profundidade, clareza e narrativa envolvente.
Revisão final pelos próprios executivos, garantindo autenticidade e voz pessoal.
Assim, entregávamos conteúdo consistente, que refletia autoridade de quem assinava e ao mesmo tempo servia aos objetivos de posicionamento da empresa.
Era uma equação simples, executivos viravam referência, a marca ganhava credibilidade e nada disso tomava tempo excessivo da rotina de quem precisava estar conduzindo o negócio.

Exemplos de quem já toca essa música
Satya Nadella (Microsoft): reconstruiu a cultura da empresa com sua voz calma e empática, projetada em artigos, entrevistas e posts consistentes.
Luiza Trajano (Magalu): se tornou porta-voz de inovação e causas sociais, fortalecendo a reputação da marca em múltiplas dimensões.
Richard Branson (Virgin): transformou sua personalidade em ativo estratégico, fazendo da autenticidade a essência da empresa.
Todos eles entendem uma verdade simples: quando o público pensa em uma companhia, muitas vezes pensa primeiro em uma pessoa.
O refrão que fica
Marketing pessoal de executivos não é sobre frases inspiracionais no LinkedIn.
É sobre dar corpo à narrativa da empresa através de quem a representa.
A marca ganha credibilidade. Os executivos viram referência. O público sente que está ouvindo pessoas, não comunicados frios.
E se no palco de um show só existe uma voz, nas empresas é igual. A narrativa pode ser escrita a muitas mãos, mas no fim, quem segura o microfone precisa aprovar cada vírgula.
Porque quando desafina, não é só o vocalista que perde. É a banda inteira.