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Como janelas quebradas levaram os casos de racismo, como o do Vinícius Jr, chegarem a esse ponto

Quando algo parece não ter reação contrária, tende a ser repetido e aumentar até que encontre alguma resistência.

Quando você vê uma janela quebrada espera que alguém vá consertar. Se passa um tempo e ninguém faz nada, já passa a impressão de que o local está abandonado e ninguém se importa e começam a jogar pedras em mais janelas.

Foi partindo desse pensamento (Teoria das Janelas Quebradas) que Nova York saiu daquela decadência e violência dos anos 80 começando por limpar o metrô e evitar que os passageiros pulassem roletas e andassem de graça.

Foto: Christopher Morris

Parecem atitudes muito pequenas quando a cidade está com altas taxas de criminalidade. Mas quando a imagem é de descaso, muita gente se sente à vontade para fazer o que quiser. De pular a roleta a cometer um crime à mão armada.

Só que não é simples fazer isso. Investiram milhões em novos trens de metrô, e todas as noites limpavam qualquer pichação. Se não desse para limpar com facilidade, tiravam o vagão de circulação e só devolviam quando estava pronto.

Outra coisa difícil foi convencer a polícia a vigiar as catracas do metrô impedindo o uso sem pagar. Era uma infração de apenas U$ 1,25 numa cidade tomada por violência. Imagina convencer um policial de que era importante apreender os caloteiros ao invés de combater crimes mais graves.

Mas isso foi feito. E de maneira que deixasse claro que estava sendo feito. Eles iam algemando grupos de caloteiros para depois levar todos para a delegacia. Assim ganhavam em produtividade e ainda mostravam a punição acontecendo.

Quando esses caloteiros chegavam na delegacia para passar pela triagem vários já eram procurados por outros crimes. Você pegava um cara por pular roleta e descobria que estava com uma arma ilegal, já tinha uma ordem de prisão ou até era procurado por assassinato. Foram atrás do que pareciam ser apenas espertinhos e pegaram vários criminosos perigosos.

Isso também evitava que os crimes escalassem. A certeza da punição é mais importante que o tamanho da pena.

Os casos de racismo com o Vinícius Jr começaram aqui no Brasil. Alguns mais velados outros bem explícitos, e não foram punidos. Mas como ele saiu cedo daqui, não deu tempo de escalar muito.

Na Espanha foi como na Teoria das Janelas Quebradas. Casos pontuais de racismo que foram denunciados e nada aconteceu. Continuaram ofendendo ele e nada de punição real. Ganharam recorrência e cada vez menos gente tinha medo de repetir as ofensas.

Eram os caloteiros pulando roletas.

Chegaram ao ponto de pendurar um boneco do Vini numa passarela, como se estivesse enforcado, e mesmo assim NADA foi feito.

Com isso, os racistas foram ficando mais confortáveis. Cada vez mais tomavam coragem e ofendiam o jogador nos estádios pela espanha.

O auge disso foi no domingo, 21 de maio. Antes mesmo do Vini entrar no estádio já tinha uma multidão de torcedores do Valência ofendendo o atleta. Nada foi feito. Durante o jogo continuaram os atos racistas. Na primeira vez o juiz pediu pro sistema de som do estádio avisar para pararem as ofensas ou o jogo seria interrompido. Continuaram ofendendo e nada acontecia. Chegou ao ponto de um estádio, uníssono, ofendendo um jogador e isso foi tratado sem a devida importância. Até que o Vinícius foi injustamente expulso e depois comprou a briga como nenhum outro jogador de futebol fez até agora. Chegando a envolver os governos do Brasil e da Espanha.

O processo está tão errado que o protocolo contra o racismo nos estádios começa com um aviso sonoro pedindo para pararem as ofensas. O segundo passo é interromper temporariamente o jogo até que parem de cometer atos racistas. O TERCEIRO passo é encerrar o jogo. Ou seja, podem ser racistas DUAS VEZES antes da primeira punição real acontecer. Todo jogo você pode quebrar umas janelas que ninguém se importa.

Agora vamos voltar lá no exemplo dos caloteiros do metrô. Claro que tem gente que pegou carona e foi ofender o Vini por achar normal tentar desestabilizar o adversário a qualquer custo. Mas você não acha que no meio de todos esses torcedores não tem gente com histórico violento? Ou até outros crimes. Quem pendura um boneco como se estivesse enforcado certamente não fez só isso de agressivo.

Se tivessem punições reais lá quando começaram a ofender o Vini, certamente não teríamos chegado a esse ponto. Um atleta de 23 anos precisa se expor mais do que qualquer outro jogador fez porque quem manda no esporte simplesmente não se importa.

Não existe solução simples para o racismo. Mas quanto mais deixam acontecer sem qualquer punição real, só tende a aumentar.