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A cultura engole a estratégia no café da manhã, mas tem como mudar - Luizletter #7

A frase hoje pode até ser batida, mas problemas na cultura das empresas prejudicam até as melhores estratégias.

A Cultura engole a estratégia no café da manhã, mas tem como mudar

Costumamos focar muito na estratégia. Nos baseamos em teorias, estudos, pesquisas e montamos planejamentos incríveis. Mas se você não consegue implementar isso dentro da cultura da empresa, certamente o resultado não vai ser o ideal.

Já trabalhei em empresa própria, startup, serviço público e hoje trabalho numa grande empresa. Nas áreas de meio ambiente, salão de beleza, plano de saúde, TI, jornal e várias outras.

Ou seja, já passei por muita coisa diferente e sei como a cultura pesa no dia a dia.

Em um lugar eu consegui mudar, pelo menos, parte da cultura.

Quando fui trabalhar no zoológico, fui contratado como designer. Mas sobravam muitas horas livres. Eu ficava andando pelo Zoo, tirando fotos e conversando com todo mundo. Diretores, tratadores, veterinários, qualquer um que realmente entendesse dos animais.

E conversando com meus amigos, falando coisas legais que o zoológico faz e ninguém sabe, eu vi que tinha uma oportunidade de explorar isso como conteúdo.

Por conta própria eu comecei a produzir conteúdo para o perfil do Instagram e fomos tendo um ótimo resultado. Logo, a parte de design ficou secundária pra mim.

O problema era conseguir saber o que ia acontecer em cada dia. Culturalmente, a comunicação do Zoo é mais passiva, reagindo aos contatos da imprensa ou falando de alguma coisa que fuja do dia-a-dia. Mas tem muita coisa que acontece lá que é normal pra quem trabalha, mas pro público é muito relevante.

Eu tinha dificuldade de estar no lugar certo na hora certa porque não me avisavam das coisas. E a culpa não era deles. Nem sabiam o que era uma pauta relevante.

Mesmo que todos soubessem que eu tinha a demanda do Diretor para produzir esse tipo de conteúdo e precisava que me avisassem sempre que houvesse algo interessante, não era só uma questão de imposição.

Com o tempo, eu descobri que eles tomavam café da manhã juntos, e comecei a frequentar. Assim, eu participava, organicamente, de uma reunião de pauta que eles nem notavam que faziam, e ali, eles comentavam o que ia acontecer no dia, mas sem nenhuma preocupação. E comecei a pegar muita informação legal assim.

Depois eles começaram a me avisar até com antecedência do que ia acontecer que poderia ser interessante. Eles aprenderam o que eu considerava interessante e se acostumaram comigo produzindo conteúdo com eles.

Ficou orgânico.

Um caso muito mais relevante de mudança de cultura foi além de uma empresa. Mudou a medicina.

A Florence Nightingale era enfermeira durante a Guerra da Criméia (1854), e trabalhava num hospital de campo em condições absolutamente deploráveis.

Ela notou que questões básicas de higiene, como lavar as mãos e não deixar esgoto passar por dentro do hospital salvavam vidas. Pra você ter uma ideia dos mortos, 1 de 8 morriam de algo diretamente relacionado ao conflito e, 7 de 8 morriam de infecção relacionada às péssimas condições do hospital.

Hoje parece óbvio, mas na época não era. E nem foi fácil mudar a cabeça de quem mandava. Isso porque ela analisava e tinha dados, mas nem assim conseguia convencer os outros.

Até que ela DESENHOU de maneira mais impactante que números numa tabela.

Nos gráficos, as áreas em azul são mortes por causas evitáveis (falta de higiene no tratamento, e outros cuidados básicos), em vermelho, as mortes pelos ferimentos e em preto, outras causas.

Deixou bem claro como a quantidade de mortes evitáveis eram absurdas e, com isso, conseguiu mudar os rumos da medicina.

As mudanças propostas pela Florence hoje são tão óbvias que não conseguimos imaginar como era antes. Mas isso só acontece porque ela conseguiu mudar a cultura da medicina indo além de método científico e dados. Teve que conseguir deixar claro para ser aceito com mais facilidade por todo mundo.

Mudanças de cultura costumam ser lentas e só funcionam quando muita gente começa a ver a utilidade. Não adianta ser algo que só veio da chefia sem maiores explicações.

Geralmente são lentas e têm que ir sendo integradas no dia-a-dia. Até que cheguem ao ponto de virar comportamentos naturais na rotina.