O design sempre tem que ser útil. Mesmo que você tenha que usar Comic Sans.

A escolha de uma fonte vai muito além de uma questão estética.

É até comum saber que fonte com serifa é melhor para textos longos, como em livros, jornais e revistas. Isso ocorre porque as serifas ajudam a orientar os olhos do leitor e tornar a leitura mais confortável.

Já as fontes sem serifa são mais comuns em design gráfico e digital, onde a legibilidade rápida é mais importante.

Esse é o básico que você aprende na primeira lição sobre fontes. Além de saber que nunca deve usar Comic Sans.

Mas essa newsletter não é para entrar nesse tipo de detalhe. É para tratar de algo menos conhecido e muito relevante.

Existem fontes que têm "super poderes".

Vamos supor que você trabalha em um escritório de advocacia que imprime milhares de páginas por semana. E toner não é nada barato. Se quiser economizar na tinta, você pode trocar a Times New Roman pela Garamond (que também é serifada) e nisso vai economizar 30% do custo da impressão. Sim, apenas mudando a fonte você consegue ter um gasto menor de toner. E você certamente tem a Garamond instalada no seu computador.

Se formos falar de fontes feitas com o intuito de economizar, temos a Ecofont.

É horrorosa? É. Mas ela foi feita em cima da Vera Sans e esses furos economizam 20% de tinta em relação à fonte original.

Mas não precisa ser tão feia assim. A Ryman Eco foi feita com muito espaço vazio para ajudar na economia, mas de uma maneira mais fluida que gerou um resultado bem mais agradável.

O problema é que nenhuma dessas duas fontes feitas para economizar tinta tem uma boa leitura. Elas são mais uma prova de conceito do que algo que você vá usar em larga escala. Acaba sendo melhor usar logo a Garamond mesmo ou até uma Century Gothic, que é excelente e gasta 30% menos tinta que a Arial.

Economizar tinta pode até nem parecer um "super poder" tão relevante. Mas sabia que existe uma fonte criada pelo Instituto Braile que é feita para facilitar a leitura de quem tem alguma dificuldade de enxergar?

A Atkinson Hyperlegible tem como objetivo principal a facilidade de ser lida. E mesmo bem desfocada, como vemos acima, é fácil distinguir caracteres facilmente confundíveis. Além de tudo, é bonita.

Tem uns detalhes praticamente imperceptíveis que fazem toda a diferença e você pode ver aqui.

E ela não é mais legível apenas para quem tem alguma dificuldade. Por ser feita para facilitar a leitura, ela facilita até para quem tem a visão perfeita. Excelente para textos pequenos.

Pra fechar, ela é gratuita e você pode baixar aqui.

Se isso ainda não te impressionou o bastante, tem outro super poder que eu só fui saber por indicação do @agt0_, no Twitter.

Eu não sabia, mas existe uma fonte feita para facilitar a leitura de disléxicos.

Por ter mais peso na parte de baixo, formas irregulares e barras mais longas, facilita a leitura para quem tem dislexia. Eu nunca imaginei que existiria algo tão específico.

Infelizmente, não é gratuita, mas pode ser baixada aqui. Já a Open Dyslexic, que é bem semelhante, é grátis. Você pode baixar aqui e, se quiser, doar alguma quantia.

Pesquisando um pouco mais, para ver se alguma fonte padrão seria mais amigável para disléxicos, confesso que dei uma risadinha quando eu descobri essa aqui.

Sim, a Comic Sans, tão odiada por designers e civis, facilita a leitura para quem tem dislexia. A irregularidade das letras faz com que sejam menos confundíveis.

Tem até um site muito bem feito com uma campanha incrível a favor do uso da Comic Sans. Eles até explicam os detalhes que fazem a fonte ser mais legível para disléxicos. Confesso que fiquei meio tocado e agora não consigo mais odiar a fonte do mesmo jeito.

Quase um ano atrás eu fiz um texto dizendo que o design tem que ser, acima de tudo, útil. E em setembro do ano passado, fiz outro mostrando a camisa da seleção belga que era linda, tinha um conceito muito legal, mas falhava no básico, ser legível. Ser bonito vem depois.

Se você for criar uma campanha de um hospital oftalmológico, ou vender algo para um público mais idoso, aproveite para escolher uma fonte que facilite a leitura para quem tem dificuldade. E se seu público incluir disléxicos pode ser o momento onde a fonte perfeita a ser utilizada (certamente o único momento que isso vai acontecer) ser a Comic Sans. Mesmo que não fique a solução mais elegante.