Imagine a cena: um jogador recém-contratado pelo Pisa é apresentado não no gramado, mas diante da Torre de Pisa, tomando um café expresso como se fosse protagonista de um comercial da Dolce & Gabbana. Não é ficção. É o futebol italiano em 2025, tentando ser cool indo muito além das quatro linhas.
E, convenhamos, faz sentido. Porque se em campo a Serie A já não consegue competir financeiramente com a Premier League ou a La Liga, fora dele o campeonato decidiu jogar naquilo que a Itália tem de mais autêntico: cultura, moda e estilo de vida.
O Venezia FC é a vitrine perfeita desse movimento. Em 2020, o clube contratou a agência nova-iorquina Fly Nowhere para reposicionar a marca. A missão era ousada: transformar o time em algo mais relevante do que a performance esportiva.
Deu certo. As camisas da Kappa passaram a ser lançadas como coleções de moda. Golas polo elegantes, detalhes em dourado, o leão de São Marcos como ícone gráfico. As campanhas, fotografadas em cenários venezianos, não vendiam apenas uniforme — vendiam lifestyle.
Resultado: 96% das vendas das camisas do Venezia são internacionais. O clube virou artigo de desejo em Tóquio, Nova York e Londres. Se antes lutava contra o rebaixamento, hoje luta por espaço nos editoriais da Highsnobiety e da GQ.
Esse movimento não é isolado. A Juventus, sempre atenta ao branding, anunciou em 2025 parceria com a grife Giorgio Armani para vestir os jogadores fora de campo. O clube já tinha o “Juventus Creator Lab” para produzir conteúdo além do futebol e agora soma Armani + Adidas em uma equação de luxo e performance.
O AC Milan, por sua vez, explora seu endereço privilegiado na capital da moda. Já desfilou com Dolce & Gabbana, colou sua marca em projetos da Off-White e mantém colaborações com joalherias como Damiani. O resultado é um clube que vende a ideia de luxo moderno, meio streetwear, meio couture.
E até clubes emergentes como o Como 1907 usam o futebol como plataforma de turismo, mídia e estilo de vida. Não é exagero dizer que, em 2025, muitos clubes italianos se vendem como “clubes de luxo que jogam bola”.
Porque dinheiro não é tudo. A Premier League pode distribuir bilhões em direitos de TV, mas a Serie A descobriu que sua força está em vender identidade.
A cultura italiana é globalmente reconhecida: moda, arquitetura, gastronomia, cinema.
O público jovem valoriza autenticidade, estética e lifestyle, não apenas 90 minutos de jogo.
A narrativa cultural cria lembrança de marca: não é só sobre quantos pontos o Venezia fez, mas sobre o impacto visual da sua camisa na passarela das redes sociais.
Em outras palavras: se a Premier compra atenção com cifras, a Serie A conquista com alma.
Mas enquanto os italianos resgatam tradição e cultura, outros clubes vão pelo caminho inverso: buscam a estética jovem e urbana.
O PSG é o maior exemplo. Sua parceria com a Jordan Brand não apenas vendeu mais de um milhão de camisas no primeiro ano, como posicionou o clube como símbolo de moda urbana global. Um adolescente em Los Angeles ou São Paulo pode não saber escalar o time do PSG, mas sabe reconhecer o logo da Jordan no uniforme.
Esse movimento também inspira clubes italianos. O Milan, com suas colaborações com Off-White, flerta com a estética streetwear. A Juventus aposta em conteúdo digital pensado para a geração Z, incluindo séries animadas no YouTube.
No fundo, é a mesma lógica: o futebol é só uma das camadas. O que se vende é cultura, seja ela luxo clássico italiano ou lifestyle urbano global. Futebol não é mais só futebol.
E aqui está a grande sacada: ao se aproximar da cultura local, a Serie A ganha personalidade própria.
Enquanto a Premier é o campeonato da força econômica,
A La Liga se ancora no peso de Real Madrid e Barcelona,
A Serie A está virando o campeonato da cultura italiana.
É o torneio que conecta moda de Milão, elegância de Turim, estilo de Veneza e até a aura cinematográfica de Nápoles. O futebol passa a ser vitrine de um país inteiro, e isso dá um charme que dinheiro nenhum compra.
Se você é empresário ou gestor de marca, aqui está a lição:
Quando você não pode competir em preço, compita em identidade
Se não dá para ser o mais rico, seja o mais autêntico.
Marcas que se conectam à cultura local constroem valor simbólico que ultrapassa fronteiras.
O futebol italiano entendeu isso. Ao invés de lamentar a falta de dinheiro, transformou sua italianidade em diferencial competitivo.
Voltando à cena do início: Raúl Albiol na Torre de Pisa, café na mão, é mais que marketing criativo. É o símbolo de uma liga que escolheu disputar atenção não pelo bolso, mas pelo coração.
No campeonato italiano de 2025, vencer em campo é importante. Mas vencer fora dele (com estilo, cultura e narrativa) é o que garante que a Serie A continue sendo lembrada como a liga mais charmosa do mundo.
Porque no fim, futebol é sobre gols, sim. Mas também é sobre histórias que a gente leva para além do estádio.