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IA faz tudo. Mas quem decide o que importa?

O case de Chop Suey! e a diferença entre executar e enxergar o que realmente funciona.

Imagine a seguinte cena: o estúdio está escuro, exceto por uma luz suave no canto. Um músico ajusta o fone de ouvido, prestes a gravar. Do outro lado do vidro, sentado no sofá, está Rick Rubin. Camiseta branca, barba longa, descalço. Ele ouve. Só isso. Não encosta em botões, não sugere acordes, não dá ordens. Apenas ouve, com atenção total.

E o mundo inteiro paga milhões por isso.

O paradoxo do especialista que não mexe nos botões

Rick Rubin já produziu álbuns de artistas como Johnny Cash, Red Hot Chili Peppers, Adele e Jay-Z. Ele não sabe operar uma mesa de som. Não toca guitarra. Não lê partituras. O que ele faz, então?

Ele capta o que está funcionando, e o que está ali só pra preencher espaço. Ele não foca na técnica, mas no impacto. E em um mundo cheio de ruído, isso faz toda a diferença.

Com o System of a Down, por exemplo, Rubin ajudou a moldar uma das músicas mais icônicas dos anos 2000: Chop Suey!

O livro aberto que virou ponte

Durante a produção da faixa, Rubin questionou várias decisões da banda, principalmente as que pareciam feitas só pra impressionar tecnicamente. Em uma conversa com o baterista John Dolmayan, ele perguntou: “Essa virada é pela música ou só pra mostrar que você consegue fazer?” A partir dali, a banda começou a olhar a música como um conjunto, e não como um espaço pra mostrar habilidade individual.

A ponte da música ainda não tinha letra. Faltava uma ideia. Rubin, em vez de sugerir algo direto, propôs um experimento: Serj Tankian, o vocalista, deveria ir até sua casa e abrir um livro aleatoriamente. O trecho que aparecesse seria a base.

Serj abriu. Leu.

"Father, into your hands I commend my spirit… why have you forsaken me?"

A frase foi usada na música e virou um ponto marcante. Não por ser “profunda”, mas porque surgiu de um processo de criação diferente. Ao invés de forçar um significado, Rubin criou espaço para que algo interessante surgisse por outro caminho. Algo contraintuitivo.

Chop Suey virou sucesso não por ser perfeita, mas porque manteve a identidade da banda mesmo sendo arriscada. E muito disso veio de alguém que não compõe, não canta, não toca, mas sabe ouvir.

IA faz tudo. Mas ela sabe onde parar?

Hoje, a inteligência artificial escreve textos, ajusta campanhas, segmenta públicos e cria imagens. Tudo rápido, tudo escalável. Mas nenhuma IA vai te perguntar: “Isso aqui está servindo ao propósito... ou só parece bonito?”.

E ela, dificilmente, sugeriria algo contraintuitivo. Ela segue padrões, que tendem a ser repetitivos e até previsíveis. Se você não pedir, expressamente, algo diferente, é bem provável que caia num lugar comum.

E é aí que entra você.

A IA é a ferramenta. Mas você pode nem dominar completamente o que está sendo feito. Eu trabalho numa empresa de cybersegurança e estou longe de ser um especialista. Mas juntando o que eu sei com o que o ChatGPT foi alimentado com conteúdos de documentos da empresa, me faz criar materiais de alto nível.

Mas claro que eu peço para um técnico avaliar antes de publicar, quando é algo muito específico.

Como sempre, o melhor uso de IA é o uso em conjunto com os humanos.

O valor de ser Rick Rubin no seu próprio estúdio

Quando você atua como alguém que não está ali só pra apertar os botões, mas pra entender o todo, você começa a operar de forma diferente. IA te dá velocidade, mas é você quem dá direção. Direção é o que separa o esforço do resultado.

Ser o Rick Rubin do seu negócio é saber usar a tecnologia sem deixar que ela tome o volante. É fazer a pergunta certa, na hora certa, mesmo que pareça simples demais.

Conectando os pontos

Rick Rubin prova que você não precisa dominar todas as ferramentas pra criar algo memorável. Você precisa de escuta, de boas perguntas e de alguém (ou algo) que execute as ideias.

Num mundo cheio de automações, a vantagem está em quem sabe quando parar, observar e decidir com clareza.