Influência vale mais que talento?

Atores, músicos e até atletas estão precisando de mais do que talento para se destacarem em seus mercados.

Aparentemente, sim. Hoje, a influência vale mais do que o talento.

Não é novidade que quantidade de seguidores abre muitas portas. Pode ajudar desde um convite para participar do BBB até a ganhar fortunas com publicidade.

E vai muito além disso.

Quantidade de seguidores aumenta as chances de um ator ser escolhido para um papel a ponto de ter um tamanho mínimo necessário, na rede social, para poder participar de uma seleção. E não é só no Brasil, mesmo em Hollywood existe este mesmo movimento. A imagem dos atores vale mais se for validada por milhares de fãs nas redes.

Mídias interferem em produções culturais desde sempre.

Várias músicas longas têm versões mais curtas, chamadas Radio Edits. Que são versões que duram entre 3 e 4 minutos, e cortam introduções, solos, tudo que for possível para deixar num formato que caiba melhor nas programações das rádios.

Um dos mercados que mais dá dinheiro no TikTok é o musical. Influenciadores são pagos com dezenas de milhares de reais para lançar músicas com dancinhas e desafios para viralizar as canções e impulsionar a quantidade de plays nas plataformas de streaming.

Mesmo com quantidade grande de seguidores, views, plays, nada disso garante sucesso.

Tem artista casado com influenciadora que fatura dezenas de milhões vendendo seus próprios produtos para milhões de seguidores, dança todas as músicas do marido, participa de clipes, mas nem isso é o bastante para encher os shows.

Seguidores e vídeos viralizados ajudam, mas não fazem milagre.

Agora, a influência vai além das produções culturais. Até os esportes viraram reféns de imagem.

Há algum tempo, aqui no Brasil, se destacaram as gêmeas do nado sincronizado. Que acabaram tendo mais impacto como influenciadoras e com constantes trabalhos em televisão do que no esporte. Souberam aproveitar a exposiçnão inicial para criarem uma nova carreira.

Os esportes americanos não permitiam que atletas universitários assinassem contratos de patrocínio. Isso fez com que atletas com potencial tivessem que largar os estudos e possíveis carreiras no esporte para trabalhar e sustentar as famílias que passavam dificuldades. Entre outros problemas.

Isso foi mudado buscando facilitar a vida dos atletas universitários de maior potencial, que poderiam ganhar dinheiro mesmo antes de se profissionalizarem, ajudando a focar mais no esporte.

Em muitos casos funcionou bem mas o esporte é só mais um mercado que acaba sempre tendendo para o mesmo lado de outros. E, nesse caso, a imagem também está pesando muito.

Essa tabela com as maiores receitas de atletas universitárias americanas, com patrocínios, mostra algumas coisas curiosas.

Vou analisar só as jogadoras de basquete (que tem o WBB abaixo dos nomes) por não ter estatísticas relevantes sobre as ginásticas para poder avaliar bem.

Puxei as estatísticas principais, de cada uma. Pontos, Rebotes e Assistências)

  • Paige Buecker (P: 14.6 , R: 4.0 , A: 3.9)

  • Hanna Cavinder (P: 3.1 , R: 1.3 , A: 1.6)

  • Haley Cavinder (P: 12.2 , R: 4.9 , A: 2.5)

  • Flaujae Johnson (P: 11.0 , R: 5.9 , A: 1.9)

  • Jada Williams (Nome comum, não achei a certa)

  • Hailey Van Lith (P: 19.7 , R: 4.5 , A: 3.2)

  • Mia Mastrov (P: 2.6 , R: 1.1 , A: 0.7)

Marquei as duas que têm, disparadamente, as piores estatísticas.

A Hanna, é irmã gêmea da Haley, que recebe praticamente o mesmo, apesar de ter um desempenho atlético muito superior.

Os perfis de Instagram de ambas são muito parecidos, misturando posts de influencer com vida de atleta.

Então, aparentemente, o Instagram pesou muito mais do que o basquete, na hora dos patrocínios.

Já a Mia, piores estatísticas da lista, tem um perfil que é praticamente só de influenciadora. Nas últimas 24 fotos, só uma tem referência a basquete.

Claramente o que mais pesou foi o perfil em rede social do que o que faz em quadra.

Mas até aí, tudo bem.

A ideia da mudança na regra era conseguir valorizar atletas universitários e eles estão tendo essa valorização. Claramente não é só focada no desempenho atlético, mas vários jogadores e jogadoras estão tendo acesso a verbas que não teriam. Em valores maiores ou menores, mas já estão recebendo algo.

E o peso de fora das quadras não influencia só nas atletas. Entre os homens, fatores externos também impactam.

O On3 criou um ranking que mistura performance, influência e exposição. E nele, o atleta amador de maior potencial é o filho do Lebron James.

É o mais seguido, o mais famoso, e tem boas estatísticas. Então faz sentido estar no topo da lista.

Entendo, e até concordo, que tem uma distorção porque visual e influência, muitas vezes, pesam mais do que talento e esforço. Mas ainda acho que a ideia inicial de distribuir dinheiro entre atletas universitários funcionou.

As gêmeas Cavinder sabem aproveitar a exposição que têm como atletas e potencializam as carreiras com isso. Não sei nem se a Haley vai chegar à WNBA, a Hanna certamente não. Mas já estão ganhando um bom dinheiro que pode facilitar muito as vidas delas no esporte ou longe dele.

Assim como elas devem ter dezenas de atletas bonitas que não conseguiram o mesmo alcance. Também existe mérito em saber explorar Instagram, TikTok e afins. Não é fácil.

Nas redes sociais a imagem de atletas e artistas pesa cada vez mais. Os mal assessorados vivem sendo cancelados ou perdem grandes oportunidades comerciais. Quem sabe aproveitar as redes ganha mais e faz a própria voz ir mais longe.

O que o Vinicius Jr fez nas últimas semanas, enfrentando o racismo com posicionamentos fortes em redes sociais fez com que fosse impossível La Liga, FIFA, patrocinadores, todos que estão envolvidos no futebol, ignorarem o problema. Usou a influência que tem fora dos campos para resolver um problema recorrente de jogos que ele participa. Se vai ajudar a melhorar eu não sei, mas o Vini soube usar as redes para colocar na mesa, como pauta mais importante do futebol mundial, um assunto que muitos tentam empurrar pra baixo do tapete.

Quem não aproveita os meios digitais para se divulgar está perdendo uma grande oportunidade. Você tá aqui lendo mais um texto meu e certamente me considera relevante. Isso numa newsletter que é assinada por quase 300 pessoas, longe de milhões de seguidores em uma rede social. Também temos que saber usar isso a nosso favor, não serve só para atletas e artistas.

Quando eu produzia conteúdo para o Zoológico (pode chamar de blogueirinho, se quiser) dei uma palestra na Universidade Católica falando da importância que eles tinham de conseguir se comunicar com o público geral. Os alunos são treinados com técnicas para escrever artigos científicos, que é importante na academia, mas ficam muito presos nisso e esquecem que se não conseguirem atrair atenção para o que estão fazendo, não conseguem nem emprego nem alguém pra bancar projetos.

Sei que hoje alguns cientistas já entenderam a necessidade de saber se comunicar melhor com o grande público. Mas isso tem que vir das faculdades também, a academia tem que entender que é importante treinar os alunos para falar com quem não é do meio acadêmico e ensinar a usar as ferramentas.

Se você não sabe nem por onde começar para poder aproveitar as redes para mostrar seu trabalho, projetos pessoais, o que for relevante, eu tenho uma sugestão. Comece lendo o “Mostre seu Trabalho”, do Austin Kleon. Depois vai lá no Instagram e monta um perfil específico pra isso, começa uma newsletter no Beehiiv, cria um perfil do Twitter… Escolha o que preferir, mas aproveite para se valorizar com o que a internet pode te dar.

Mesmo que não fique rico só com isso.