Li que o Google Imagens só existe por causa da Jennifer Lopez. Fui pesquisar, pronto para desmentir. Apostava que era mais uma daquelas histórias aleatórias que a internet cria quando está entediada.
Fui investigar só para confirmar minha superioridade moral. O problema é que estava tudo lá, direitinho.
Quando o público encontra o buraco que a empresa não viu
Depois do Grammy de 2000, o planeta inteiro correu para o Google buscando uma coisa específica. A foto do vestido verde. Não a versão escrita, não o artigo da revista, a imagem.

Só que o Google ainda operava como se o mundo fosse uma enciclopédia de texto. As pessoas pediam uma foto, e o sistema devolvia uma página cheia de texto, com a imagem junto.
Foi aí que o público revelou um ponto cego que ninguém dentro do Google tinha percebido. Um buraco enorme no meio da experiência de busca, escancarado por milhões de dedos digitando a mesma coisa. A internet já queria ver, não só ler.
Quando ouvir o público vira a forma mais rápida de enxergar o futuro
Eric Schmidt contou, anos depois, que o volume de buscas foi impossível ignorar. Se tanta gente quer fazer algo que o produto não permite, então não é tendência. É necessidade reprimida.
Nasceu assim o Google Images. Não porque alguém teve um lampejo brilhante, mas porque a empresa finalmente leu o comportamento real das pessoas. E isso vale para qualquer negócio. Muitas vezes o produto que você deveria criar já está sendo pedido, só que disfarçado de hábito, repetição ou incômodo.
A ilusão confortável de que inovação nasce de brainstorms controlados
Ainda existe a fantasia de que grandes ideias nascem em salas com paredes cobertas de post-its coloridos. Só que o mundo real não está nem aí para a sua sala de reunião.
As ideias importantes escorregam pelas frestas. Vêm de uma falha do sistema, de uma reclamação insistente, de um padrão estranho que ninguém leva a sério.
O vestido da J.Lo virou o espelho. O Google viu, de repente, que o futuro do produto estava mais claro para o público do que para a própria empresa.

A porta que o público empurra quando a empresa demora
Toda empresa tem esse momento. Não com glamour, não com Versace, mas com a mesma lógica. Um sinal aparece. Depois aparece de novo. E mais uma vez. E alguém diz que é coincidência, ou que não é o foco do trimestre, ou que “o usuário não sabe o que quer”.
A história do vestido lembra que sabe sim. Sabe antes de você. Sabe do jeito mais barulhento possível. E se você ignorar, o mundo vai seguir com ou sem você. Porque a realidade é teimosa, e costuma vencer qualquer plano estratégico muito bem diagramado.
Talvez o seu próprio “Google Imagens” já esteja batendo à porta. E talvez ele não venha com glitter, nem com tapete vermelho. Só com insistência.


