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Modernizar tradição é sempre difícil [Luizletter #20]

Nos últimos anos passamos por muitas mudanças no consumo de futebol pela TV. A principal delas é a fragmentação em diversas TVs e Streamings, a ponto de ficar difícil saber onde vai passar um determinado jogo.

Antigamente era futebol nacional na Globo/Sportv e internacional da ESPN. E Hoje tá tão complicado que pode ser até que a ESPN tenha o direito de transmissão de um jogo importante, mas esconda ele no Star+ só pra nos fazer assinar mais um serviço.

E essa não é a única mudança.

Esse ano o YouTube transmitiu o Campeonato Paulista e vários streammers passaram jogos do Carioca na Twitch e nos dois casos tivemos uma pegada bem mais de internet mesmo, quase com um react das partidas, com imagens dos narradores e comentaristas fixadas na tela, como acontece em vídeos de reação, que são moda no YouTube e na Twitch.

Como eram campeonatos estaduais, de menor relevância, nem vi tanta reação negativa no Twitter. E também parecia algo mais experimental.

Só que parece que a mudança veio pra ficar.

Nessa semana o Prime Video transmitiu a Copa do Brasil com o Tiago Leifert narrando, Casemiro e a Alê Xavier comentando. O ex-Global desempenhando o mesmo papel que teve em várias edições do jogo de futebol FIFA, mas não costumava fazer na TV. E os comentaristas ficaram famosos na internet, ou seja, o narrador com experiência de videogame e comentaristas acostumados com a informalidade do digital.

Além disso, também tiveram suas imagens fixadas na tela durante toda a transmissão.

Aí o Twitter fez o que sabe melhor, reclamar:

No meio de tanta reclamação, vi alguém dizendo que tinha como ver outra transmissão no próprio Prime Video e fui procurar.

Não tinha como tirar as "carinhas" de cima, como muitos pediam. Tinham duas transmissões diferentes do mesmo jogo. Uma mais moderninha e outra com um narrador e comentarista tradicionais. Sem cabeça na tela nem nada.

É uma ótima ideia ter as duas opções. Em teoria resolveria todos os problemas. Mas não adianta nada se não tem uma divulgação pra isso. Só fui descobrir como fazia porque vi alguém dizendo que era possível. Não vi a própria Prime Video comentando isso no Twitter ou na transmissão principal, que era a sugerida. E a interface também não indicava com clareza que existia mais de uma opção.

Falha de divulgação, e de UX, em algo que resolveria todos os problemas.

E não é só em serviços de streaming que temos testes de novos formatos. A Globo testou uma novidade no Brasileirão, que foi odiada pela maioria.

A linha do tempo:

A ideia nem era ruim. Colocar uma linha do tempo com os principais acontecimentos da partida. Mas a execução foi péssima.

Começaram tirando o tempo, com minutos e segundos, lá de cima para só deixar na linha do tempo, sem os segundos. E essa linha era dividida em cinco segmentos de cinco minutos. E a cada tempo tinha uma linha diferente.

Eu entendo que a ideia era levar mais informações pra tela, mas por conta de streamings e videogames, boa parte da audiência está acostumada com mais itens numa tela do que antigamente. E as TVs estão cada vez maiores e com mais definição. Faria sentido colocar algo novo, mas parece que não foi bem planejado.

Se fosse só algo extra, que não tirasse informação lá de cima, e aparecesse em certos momentos (o que está acontecendo hoje) seria muito mais útil. Além de colocar o jogo inteiro na mesma linha, sem dividir por cada metade.

O futebol é muito tradicional, mas precisa mesmo testar novidades. Tanto os streamings podem ter mais de uma opção como até TVs, que possuem mais de um canal.

A NBA já fez teste até em final. Com uma transmissão normal e a outra com muita cara de videogame.

Além disso, já fizeram até transmissão temática dos Vingadores. Mas ali no canto de baixo deixando bem claro que tinha a opção tradicional para quem preferisse.

A NFL já teve transmissão de jogo focada em público mais jovem com a Nickelodeon.

Hoje temos tecnologia para fazer vários testes. Para as gerações mais jovens, podemos atualizar as transmissões usando linguagem que eles estão acostumados. Para os mais tradicionais também tem como melhorar a experiência, mas é necessário ter mais cuidado.

A disputa hoje não é entre um canal ou outro. A disputa é pelo tempo do público. Jogo de futebol disputa com videogame que disputa com reality show que disputa com a live do seu vizinho.

Quem trata todo o público de uma só maneira pode perder atenção para quem conversa com um nicho. Se você consegue agradar mais de um tipo de espectador você tem uma chance maior de ganhar o tempo de mais gente.

Mas não deve abandonar o público cativo, que já está acostumado há anos consumindo conteúdo do mesmo jeito.